Sobre o processo criativo, pausas, silêncio e gentileza
A importância dos momentos de pausa e de saber quando silenciar para poder voltar a criar com prazer
Por mais que a gente tente, tem dias que a escrita simplesmente se recusa a fluir. Você abre seu caderno, pega sua caneta preferida, sua mão ensaia timidamente começar a desenhar a primeira palavra no papel, mas ela trava. Ou então você senta em frente ao seu computador e tudo o que faz é encarar a página em branco enquanto ela te encara de volta, intrépida, indiferente à sua angústia. E você fica ali, encarando o vazio. Minutos se passam, que se transformam em horas. E a página continua ali, em branco.
Um lado nosso sempre tenta forçar e criar algo a todo custo. Mas, do lado de cá, nós já aprendemos (com muito custo) que momentos como esses, não só são parte do processo criativo, como são extremamente importantes.
Muitas vezes, quando nos deparamos com um processo criativo, queremos resultados imediatos. Quem nunca? Porém, às vezes, é importante parar e dar a si mesmo um tempo para pensar e reorganizar os pensamentos. Nesses anos de experimento com a escrita, nós aprendemos que pausas, silêncio e gentileza são as principais ferramentas para um processo criativo saudável.
Tudo isso precisa funcionar de maneira muito natural e gradual. Também não adianta querer que o nosso cérebro organize os pensamentos de uma hora pra outra. Quando o coitado chega num ponto de exaustão com excesso de informações, reflexões e tomada de decisões, é o momento de vivenciarmos o ócio criativo sem olhar no relógio pelo bem da nossa saúde mental, porque é disso que nossos neurônios estão precisando para ficarem mais funcionais e, consequentemente, voltarem a criar.
Pausa
Pausas, na verdade, são cruciais para o nosso processo criativo. Sejam elas curtas ou longas, as pausas permitem nos distanciar, olhar sob uma perspectiva diferente e, posteriormente, descobrir novas ideias.
Pausar a escrita é, na verdade, um exercicio, que nos permite mergulhar num processo de pesquisa - escutando músicas, assistindo filmes e séries, observando tudo ao nosso redor, numa verdadeira imersão cultural, é a melhor forma de permitir que o nosso cérebro seja alimentado de experiências para que ele possa alcançar novos níveis de compreensão, através da observaçao sensorial.
Escuta e Silêncio
A Julia Cameron, em seu livro A arte da escuta: Desenvolvendo a criatividade pela prática da atenção, nos ensina sobre a importância de praticar a escuta. Isso significa que precisamos sair da frente do papel e ir escutar nosso ambiente, os outros, nosso eu superior, nossos heróis e, sobretudo, a escutar o silêncio. Nesse livro, Cameron, que é a mesma autora do aclamado livro “O Caminho do Artista” (que nós amamos e vamos voltar a falar dele numa edição futura dessa newsletter), nos ensina que o silêncio tem muito a nos dizer quando nos dispomos a aprender a escutá-lo.
Rumi: “O silêncio é a linguagem de Deus; todo o resto é má tradução”
A verdade é que o silêncio é necessário para um processo criativo saudável. Estar em silêncio, me permite ouvir aquilo que está por trás das palavras. Ver o que nossos olhos não conseguem ver. Essa talvez seja a forma mais fácil de me conectar com as partes menos acessíveis do meu ser. E sendo assim, é extremamente importante tomar um tempo para silenciar e me conectar com meus pensamentos mais profundos. (Déa Woodart)
No fundo, o processo criativo envolve muito mais do que apenas a criação de algo novo. Envolve o tempo para a reflexão, para escutar os nossos pensamentos e para ficar em silêncio.
Estes momentos de pausa, escuta e silêncio são cruciais para conseguir uma intuição clara sobre o assunto que estamos a trabalhar, assim como para reorganizar os nossos pensamentos e compreender melhor sobre o que queremos escrever.
E assim como escrever exige prática, escutar e silenciar também. Mais do que isso: exige acolhimento e gentileza.
Gentileza
Uma lição importante que aprendemos durante esses anos praticando a escrita, é que ser criativo é ter compaixão por si mesmo.
Ser gentil consigo mesmo, aceitar as etapas do processo, nossos erros e sucessos, e permitir a nossa vulnerabilidade, nos dá a liberdade de experimentar e crescer como pessoas, profissionais e artistas.
Neste final de ano, lembre-se que é preciso pausar e se acolher. Aceite isso como parte do processo criativo da sua vida. Reserve um tempo para si mesmo. Seja gentil consigo mesmo.
E aqui vai uma trilha sonora bem cremosinha que nós selecionamos para te inspirar:
LINKS DA SEMANA:
Se você ainda não assistiu a nova obra de arte do Guilhermo Del Toro, assista. Você pode pensar que Pinocchio é aquela história batida mas, acredite, Del Toro encontrou um jeito de torná-la surpreendentemente fascinante. Esculpir cinema, é isso que ele faz. Leia a crítica aqui. Se dê de presente esse espetáculo cinematográfico de fim de ano.
Aliás, ainda dentro dessa proposta de proporcionar momentos de lazer na sua própria companhia, ou na cia do mozão e/ou da família, a newsletter da Aline Valek dessa semana tá servindo um banquete recheado de dicas imperdíveis!
A última edição da newsletter da escritora Fabiane Guimarães, Tristezas de estimação, levanta reflexões preciosas sobre a identidade literária.
E se você ainda não leu, na nossa edição passada, lançamos um desafio super interessante de escrever uma carta para o seu “eu” do futuro. Ainda dá tempo de escrever a sua. Confere aqui:
Por fim, queremos desejar a você, que acompanha essa recém-nascida newsletter (porém cheia de amor pra dar), um fim de ano tranquilo. Sabemos o quão ambicioso esse desejo pode ser diante de um 2022 caótico que já provou sua capacidade destrutiva, sobretudo nessa reta final. Mas a gente é brasileira e, mesmo morando fora, não perde essa mania de acreditar que tudo pode melhorar. Ainda mais agora, faltando poucos dias pro governo Bolsonaro acabar. Bora focar nisso! Menos de uma semana, Brasil!
Boas entradas, minha gente! Vem bem lindão, 2023!
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